Discurso de Posse de Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza

DISCURSO PROFERIDO PELA EMPOSSADA MARIA CLÁUDIA DA SILVA ANTUNES DE SOUZA  – CADEIRA Nº 11- PATRONA THEREZA GRISÓLIA TANG – EM ITAJAI/SC–19 DE JUNHO DE 2015

  1. INTRODUÇÃO E SAUDAÇÕES

Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia Catarinense de Letras Jurídicas, Prof. Dr. César Luiz Pasold, ocupante da cadeira nº 01 – patrono Henrique Stodieck, Magnifico Reitor da Universidade do Vale do Itajaí, Prof. Dr. Mário Cesar dos Santos,  prezados Confrades e prezadas Confreiras, autoridades aqui presentes, representantes, professores, alunos, amigos e familiares, boa noite!

2.         AGRADECIMENTOS

Os sentimentos que me afetam são de diversas ordens, dentre eles, o reconhecimento de que não fui eu apenas a construtora do caminho que aqui me trouxe,/ pois, se trilhei a estrada/, só o fiz porque muitos me acompanharam e contribuíram para que buscasse, sem esmorecer/, o aprimoramento pessoal e profissional. Esta caminhada é longa, ainda tenho muito a percorrer.

Acolho, sensibilizada, as palavras de boas-vindas do meu padrinho e presidente da ACALEJ, Prof. Dr. Cesar Luiz Pasold, a quem reafirmo que darei o melhor de mim para atender as expectativas da academia.

Aos membros da ACADEMIA CATARINENSE DE LETRAS JURÍDICAS que, desde os primeiros momentos, acolheram-me com calorosa afeição e prestigiaram-me com sua confiança.

A UNIVALI pelo apoio incondicional. Muito me honra fazer parte desta equipe de Excelência. Ao ser comunicada oficialmente da minha indicação e aprovação para ingressar na Academia Catarinense de Letras Jurídicas, tive a oportunidade de escolher o local da minha posse, e logo me veio a ideia de realiza-la aqui, na UNIVALI. Uma forma de agradecer todo o apoio recebido durante minha trajetória acadêmica. Com muita satisfação digo “sou egressa do Curso de Direito, sou egressa do Curso de Mestrado em Ciência Jurídica da UNIVALI”. 

Destaco que, em 2014, ocorreu a comemoração dos 50 anos da UNIVALI, momento muito especial para todos. Sinto-me privilegiada em fazer parte desta equipe que há 50 anos vem transformando o destino de tantas pessoas dentro e fora de seus muros.

Sempre – e hoje mais ainda – buscou estar na vanguarda do conhecimento, implementando uma política institucional que valoriza o processo de internacionalização, integrando-se a grandes centros universitários de todo o mundo.   

O Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica – PPCJ está comemorando 20 anos de muito sucesso, recomendado nacionalmente pela CAPES, conceito 5 no curso de Doutorado, e conceito 5 no curso de Mestrado, convênio de dupla titulação com a Universidade do Minho em Portugal, com a Universidade de Alicante na Espanha, e com a Universidade de Perugia na Itália. Uma referência nacional e internacional pelo seu trabalho, sua produção científica, seu corpo docente e discente, e pela contribuição a toda a sociedade. Registro, neste ato, algumas pessoas que contribuíram para tão bela trajetória: Prof. Dr. Mário César dos Santos, nosso Magnífico Reitor (merecidamente homenageado nesta noite); Prof. Dr. Valdir Cechinel Filho, nosso Vice-Reitor de Pós-graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura; Profª Drª Cassia Ferri, nossa Vice Reitora de Graduação Prof. Dr. Paulo Márcio Cruz, nosso coordenador do Programa (também homenageado nesta noite); Prof. Dr. José Carlos Machado, nosso diretor do CEJURPS; Prof. Dr. César Luiz Pasold, primeiro Coordenador do PPCJ. Por meio de seus nomes, faço um agradecimento a toda equipe que desenvolve um excelente trabalho, comprometido com a qualidade de ensino, pesquisa e extensão. 

No dicionário da língua portuguesa, a palavra “direito” está relacionada com uma infinidade de sentidos. Tal infinidade compreende, especialmente, os sentidos de justiça, honradez, legitimidade e legalidade.  Para o Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, que em 2015 completa 50 anos de atividades, esses são sentidos norteadores.  O Curso de Direito da UNIVALI realmente tem muito que comemorar no seu cinquentenário. Ao longo dessa trajetória formou destacados profissionais e  também importantes líderes políticos da cidade e da região. E, justamente por reverenciar seu passado e vislumbrar um futuro ainda mais próspero, alcançamos conceito 4 perante o MEC; 4 estrelas no Guia do Estudante; dentre todos os cursos de direito de universidades privadas estamos em 13º lugar no ranking nacional,  e 28º de 880 cursos públicos e privados segundo o Jornal a Folha de São Paulo.

Nesta noite, aproveito também a oportunidade para reconhecer em público, pessoas que fizeram a diferença em minha trajetória.

 Aos meus pais, Cláudio e Lourdes, aqui presentes, é preciso sempre prestar o testemunho de filha mais velha: Meus queridos, na minha caminhada, ensinaram-me a agir com dignidade, honestidade e respeito. Exemplos de ética e amor incondicional.  A vocês, minha sincera homenagem e eterna gratidão.

Ao meu marido, Cléber, pelo carinho e companheirismo. Acreditou na minha capacidade quando eu mesma duvidava que conseguiria. Sempre me apoiou de forma incondicional para que pudesse alcançar meus objetivos.

Aos meus irmãos Maycon, Fábio e minha cunhada Letícia!  Obrigada pelo especial carinho e amor dedicado a minha pessoa. 

Aos meus amados filhos, Greyce e Luis Henrique: vocês fazem parte das minhas conquistas. Uma emoção que palavras dificilmente traduziriam. Lembrem-se “o sucesso é daqueles que batalham, e desejo que sejam merecedores de muito sucesso”. Dedico este momento a você, Greyce, e a você, Luis Henrique!

Aos meus professores,  de maneira muito especial neste ato representados pelo Prof. Dr. César Luiz Pasold, Prof. Dr. Mário César dos Santos e o Prof. Dr. José Carlos Machado.  A vocês, que foram e são âncoras do meu saber, norte que me conduziu ao aprendizado e me direcionou ao caminho do conhecimento. Não se trata somente de conhecimentos técnicos, e, sim, de sabedorias humanas.  Saibam que estarão imortalizados em minha vida como educadores.  Resumo tudo que gostaria de lhes dizer em uma simples frase de Isaac Newton,  “se consigo ver mais longe hoje, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes”.

Aos meus alunos. Dedico-lhes um pensamento de Galileu, “a um homem nada se pode ensinar. Tudo que podemos fazer é ajudá-lo a encontrar as coisas dentro de si mesmo”. E, para isso, precisamos dos mestres.  Estou sempre à disposição para contribuir na formação intelectual de cada um de vocês.

Aos amigos, pelas mensagens de congratulações que recebi e que ficaram registradas em minha memória.

Ao GADU, por ter me dado forças e serenidade para continuar a desenvolver um trabalho com ética, amor e dedicação, não desistindo de alcançar meus objetivos.

  • HOMENAGEM SAUDAÇÃO A MINHA ANTECESSORA E A MINHA PATRONA.

Feitos os agradecimentos, é preciso proceder à saudação a minha antecessora, que foi empossada “in memoriam”, e a minha patrona.

Antes de fazer a saudação a minha ilustre patrona e, como forma de manter viva a memória da Profª. Drª. Maria da Graça dos Santos Dias, enfatizo publicamente a importância desta batalhadora para academia e para a sociedade.  Lembro que esta nobre mulher ocuparia a cadeira nº 11 da Academia Catarinense de Letras Jurídicas, mas não teve tempo hábil para assumir em razão de seu falecimento.  Assim, a 11ª Cadeira foi ocupada “in memorian” e declarada vaga na cerimônia de sua instalação.

Durante toda minha vida, muitas pessoas passaram por mim, dia após dia. Mas somente algumas pessoas ficaram e ficarão para sempre em minha memória, a Profª. Maria da Graça é uma dessas pessoas. Conquistou-me por sua simplicidade, humildade e sabedoria, virtudes essenciais a “pessoas evoluídas”.

Maria da Graça dos Santos Dias foi docente permanente dos Cursos de Doutorado e Mestrado em Ciência Jurídica da Universidade do Vale do Itajaí. Possuía graduação em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina; graduação em Serviço Social pela Universidade Federal de Santa Catarina; Mestrado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Doutorado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina. Era membro efetivo da Academia Catarinense de Filosofia-ACF. Participou como avaliadora da minha banca de defesa no Curso de Mestrado em Ciência Jurídica na UNIVALI, contribuindo muito com seu conhecimento jurídico e social.

Os que tiveram oportunidade de conviver com a Profª Mª da Graça conheciam sua forma simples de ver a vida, sempre com um sorriso no rosto, disposta a ouvir e a ajudar a quem precisava. Merecidamente recebeu uma homenagem póstuma da Academia Catarinense de Letras Jurídicas e de toda a comunidade científica catarinense pelo seu trabalho em prol do conhecimento.

Neste momento, passo finalmente a homenagear a minha ilustre patrona, Thereza Grisólia Tang.

É conhecida a máxima de que há pessoas que optam por fazer de suas vidas uma missão de mudar história.  Não vêm ao mundo a passeio: estão sempre a serviço de algum ideal, algum projeto grandioso, em contínuo exercício de uma ambição virtuosa. Pessoas que pretendem transformar a própria vida  em exemplo nos arrastam.

Thereza Grisólia Tang é uma dessas pessoas.

Como se a honra de ser escolhida para fazer parte desta ilustre Academia não me bastasse, homenagear a patrona da cadeira que agora passo a ocupar, levou-me à contingência de ter de estudar a vida pessoal e intelectual, o que me emocionou em várias passagens. Aprendi a admirá-la e respeitá-la por sua conduta ímpar, além de ser uma grande inteligência e cultura no mundo jurídico. Era uma mulher delicada, mas firme e corajosa, que desafiou os costumes e crenças de seu tempo em favor de novos ideais de igualdade e solidariedade.

Nascida em 10 de fevereiro de 1922, na cidade de São Luiz Gonzaga, Estado do Rio Grande do Sul.  Vinda de uma família tradicional de jornalistas, sempre se destacou nos estudos, chegando a receber um prêmio por ter sido a melhor aluna do Estado do Rio Grande do Sul, o que levou o município de São Luiz Gonzaga, por meio de seu prefeito, a organizar uma festa para recebê-la com direito a banda de música, partida de futebol e baile na cidade.  Evento noticiado por semanas na imprensa. Tudo para homenagear a melhor aluna do Estado.

Durante os festejos conheceu o que viria ser o seu esposo, Walther Tang, de nacionalidade alemã, cuja chegada se fazia recente à cidade, exercendo a profissão de cirurgião-dentista. Esta festa tornou-se o evento do ano, chamando a atenção do cirurgião-dentista, que ficou curioso para conhecer a melhor aluna do Estado. Ao vê-la, logo pensou, “esta será a minha esposa”! Para surpresa de todos, o casamento ocorreu no mês seguinte, no ano de 1943.  Thereza havia completado 20 anos e Walther estava com 34 anos de idade. Contudo, a mãe de Thereza conversou com o noivo, pedindo que este apoiasse sua futura esposa na continuidade aos estudos, considerando o seu talento e dedicação. Walther aceitou o compromisso. No ano seguinte, nascia a única filha do casal a qual deram o nome de Tânia.

Passaram-se três anos, Thereza e Walther iniciaram o curso de Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vindo a colar grau na mesma solenidade. Nesta época sua filha já estava para completar 7 (sete) anos.  Desde o início do curso, Thereza manifestava vontade de ingressar na magistratura,  no entanto, neste período, a resistência à mulher na área jurídica era notória. Um de seus professores da faculdade um dia lhe disse: “os pioneiros sofrem”.  Thereza jamais esqueceu aquela frase.

Tentou fazer o concurso da magistratura no Rio Grande do Sul, mas o machismo da época não a deixou sequer participar das provas. Fato que a aborreceu profundamente e, sob vários aspectos, influenciou na decisão de a família residir em Santa Catarina. Participou de concurso público com a aprovação e ingresso na magistratura de Santa Catariana  em 21 de dezembro de 1954.  Tornou-se a primeira juíza do Estado de Santa Catarina, recebendo a melhor avaliação na seleção realizada. Na cerimônia de posse, o Desembargador Guilherme Abreu disse-lhe: “a senhora é o teste”, transferindo-lhe uma carga de responsabilidade, pois o teste era para ver se mulheres podiam desempenhar a magistratura, o que felizmente deu certo.

Registra-se que a segunda mulher veio a tomar posse na magistratura Catarinense somente 20 anos mais tarde.

Além de fazer história pelo recorde, Thereza ocupou o mais alto cargo do Judiciário Estadual, permanecendo na presidência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ/SC) no biênio de 1989 a 1990.

Thereza permaneceu na profissão até se aposentar, como desembargadora, aos 70 anos. Faleceu em 17 de outubro de 2009, em Florianópolis – SC, aos 87 anos de idade. Atualmente, sua única filha reside em Genebra, na Suíça.  Thereza teve três netos e seis bisnetos.  Nesta solenidade representando a família Tang, faz-se presente, seu bisneto, Pedro Walter Guimarães Tang Vidal. Meus sinceros agradecimentos por sua presença.

Thereza Grisólia Tang estava à frente de seu tempo, superou vários obstáculos para se tornar a primeira mulher em colocações até então exclusivamente masculinas. Virtudes que houve por bem conservar, porque, alma iluminada, soube sempre perseguir a trilha da justiça, e o fez sempre de acordo com a versatilidade de sua inteligência, aliada à cultura jurídica de que era portadora.  Que a história de Thereza Grisólia Tang possa iluminar o meu caminho.

Destaco uma frase de William Shakespeare: “Não se deixe levar pela distância entre os seus sonhos e a realidade. Se você é capaz de sonhá-los, também pode realizá-los”.      

Contem comigo, queridos confrades e confreiras, para que possamos ir ainda mais longe. 

Muito obrigada a todos!

Deixar uma resposta